quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Acerca do mercado das conversões

Estive a dar uma vista de olhos nos últimos posts deste senhor. Senti-me compelido a dizer alguma coisa. Em primeiro lugar deixo uma nota inicial: sinceramente não creio que seja importante a validade científica do estudo. Parece-me que as conclusões que tiram, concordemos ou não com elas, exigem alguma reflexão. Por outro lado, não posso deixar de concordar com o Tiago Cavaco no facto de que as pessoas que se manifestaram contra o estudo fazem-no mais por um anti-catolicismo enraizado.

Assim, passo a enunciar algumas ideias soltas:

A confissão de fé Baptista de 1689 afirma: “O papa de Roma… é o anti-cristo, o homem da iniquidade e filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra Cristo e contra tudo que se chama Deus. O Senhor Jesus o matará com o sopro de sua boca.”
Em boa parte a igreja de roma tem sido o bode expiatório para a nossa própria fraqueza. Está lá sempre presente como o animal em quem podemos sempre deitar a culpa pelo nosso próprio insucesso. Não podemos, no entanto, fugir da dura realidade das nossas congregações.
É tempo de assumir a igreja de Roma como parte da expressão do cristianismo, não contornando as nossas diferenças (algumas bem importantes), mas sem demonizar.

Já aqui afirmei que se deve duvidar de uma fé que vive por antagonismo. Deve-se duvidar da fé que vive quer do antigo antagonismo à igreja católica quer do neo antagonismo à igreja institucional (seja lá o que isso signifique). Na minha opinião, uma parte da expressão das nossas comunidades fez-se do antigo antagonismo, que ainda permanece (embora deva reconhecer que existiram razões para isso acontecesse). Na minha opinião, e perdoem-me a franqueza, a razão pela qual afirmar a nossa fé não chega é que nós próprios reconheceremos a nossa fragilidade.

Por isso, nesta construção em antagonismo rejeitámos tudo (coisa que os primeiros reformadores não fizeram). A expressão que deitámos fora o bebé junto com a água do banho assenta-nos muito bem. Uma área levantada e que me parece ser muito pertinente e reveladora é exactamente a questão litúrgica. Em fuga de uma errada “sacramentalização” do culto, temos tornado cada vez mais esses momentos espaços com pouco conteúdo: onde as expressões pessoais, “culturalmente relevantes” e, claro, “espontaneas” apenas desnudam uma ingenuidade bacoca acerca do verdadeiro significado de culto e daquilo que é esperado de um acto dessa natureza. Não percebemos que vivemos presos das nossas próprias tendências, de palavras soltas e de pouca profundidade em suposto favor de algo mais imaculado, de algo mais genuíno. Sem darmos conta, entramos na liberal genuinidade de Caim que oferece o que quer, mas cuja oferta é recusada.

À pergunta se acredito que “os evangélicos conquistam católicos fracos ao passo que os católicos conquistam protestantes fortes”? Não sei. Mas inverto a pergunta: será que um católico forte se converteria ao movimento evangélico (mesmo reconhecendo as falhas e idiossincrasias do catolicismo)? E será que um evangélico forte não estará disposto e até desejoso de aprender em algumas questões com o que o catolicismo tem de melhor?

Tiago Oliveira

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